As águas e o turismo

29/06/2011 14:28

 

As águas e o turismo

Só final do Século 19 e princípio do Século 20, as águas, já dessacralizadas pela sociedade industrial, passam a despertar interesse recreativo e turístico. Marcos Polette explica como um rio, uma lagoa e uma praia passam de paraíso a inferno. Primeiramente, aparece um ricaço num ecossistema aquático rústico, habitado, no máximo, por comunidades tradicionais de pescadores. Suas belezas naturais motivam-no a conseguir um terreno por meios lícitos ou ilícitos, onde constrói uma casa para os finais de semana e para os meses de veraneio.

O encanto do local leva-o a convidar amigos para passarem fins de semana ou temporadas. Esses também se interessam em adquirir um terreno e construir uma casa. O processo se repete e se multiplica. Os intrusos passam, então, a pleitear do poder público a pavimentação da estrada de acesso para facilitar a viagem. Por ela começam a chegar aqueles que pretendem passar apenas um dia. Para atendê-los, aparecem os construtores de pousadas e de hotéis. Casas mais simples passam a ser construídas. A economia das comunidades tradicionais é desmantelada. Os primitivos moradores são empregados pelos donos de mansões, pela rede hoteleira e pelo comércio ou são expulsos do lugar.

Assim, o turismo autofágico acaba subtraindo dos ecossistemas aquáticos marinhos e continentais a beleza que estimulou a sua ocupação. Depois de tornar insuportável o atrativo, os pioneiros ricos saem à procura de outros lugares para iniciar o mesmo processo. Viveram esta trajetória as praias de Tijuca, de Leblon e Ipanema, de Copacabana, de Cabo Frio e Búzios, de Guarapari e arredores, da Bahia e do Nordeste, de um modo geral. O mesmo sucedeu com as lagoas da Região dos Lagos do Estado do Rio e com quase todos os rios.